O conceito de computação eficiente em energia tem se consolidado como uma das pautas mais urgentes do mercado moderno. Isso porque, em um cenário no qual o avanço tecnológico ocorre em ritmo acelerado, surge também a necessidade de repensar os impactos ambientais gerados pela própria tecnologia e por toda a infraestrutura que a sustenta.
Com a popularização da inteligência artificial e seu uso cada vez mais frequente nas aplicações cotidianas (de assistentes virtuais aos modelos generativos), por exemplo, cresce proporcionalmente a demanda por data centers robustos capazes de processar volumes gigantescos de dados.
O problema? Essa infraestrutura não é neutra, pois consome energia em larga escala, exigindo recursos naturais finitos e gerando resíduos complexos, tanto no processo de fabricação quanto na operação.
Para se ter uma ideia do desafio a ser superado, na fabricação de um computador de 2kg são necessários 800kg de matérias-primas. É o que nos diz o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), no recente Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2025, cujo tema escolhido para essa edição foi “Uma questão de escolha – pessoas e possibilidades na era da IA”.
Além disso, os microchips que alimentam a IA dependem de elementos raros, cujo processo de extração, na maioria das vezes, é destrutivo para o meio ambiente, causando desmatamento e poluição de rios e solos, além de gerar emissões significativas de gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento global.
Ainda sobre o tema, o PNUD também alerta para outro problema crescente nesse contexto: os data centers produzem uma quantidade significativa de lixo eletrônico, que, geralmente, contém substâncias perigosas, como mercúrio e chumbo, ambos altamente tóxicos e de difícil descarte.
O consumo de água é outro fator crítico para os grandes data centers, tendo em vista que o insumo é utilizado durante sua construção e na fase operacional, sendo essencial para o resfriamento dos componentes eletrônicos. Estima-se, por fim, que, globalmente, a infraestrutura relacionada com a IA poderá consumir, em breve, seis vezes mais água do que a Dinamarca inteira, um país com aproximadamente 6 milhões de habitantes.
Ou seja, falar sobre computação eficiente em energia não é apenas uma demanda técnica, trata-se de uma necessidade urgente e de uma responsabilidade que recai sobre os profissionais de TI, empresas, governos e, claro, a sociedade.
Ao longo deste artigo, abordamos as especificidades da computação sustentável, explorando os seguintes tópicos:
- O que é computação eficiente em energia?
- Quais são os principais elementos que caracterizam a computação eficiente em energia?
- Qual a importância da computação eficiente em energia para o cenário atual?
- Como a computação eficiente em energia pode otimizar a operação das empresas?
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O que é uma computação eficiente em energia?
Em linhas gerais, a computação eficiente em energia refere-se ao desenvolvimento e uso de sistemas computacionais que maximizam a performance por watt consumido, incluindo otimizações de hardware, software, algoritmos e infraestrutura para reduzir o consumo energético total. Ou seja, seu objetivo é maximizar a eficiência energética e minimizar o impacto ambiental da tecnologia por toda a cadeia produtiva de uma empresa, observando desde a preocupação com as matérias-primas utilizadas no desenvolvimento de sistemas e softwares até as etapas de descarte adequado de material eletrônico.
Assim, a computação eficiente em energia abrange a criação de estratégias de TI que priorizam a eficiência energética, bem como a fabricação, o uso e o descarte correto de computadores e outros eletrônicos, além da escolha de matérias-primas de menor potencial lesivo.
Por trás da história da computação eficiente em energia
O conceito de computação eficiente em energia, ou computação verde, ganhou impulso significativo em 1992, quando a Agência de Proteção Ambiental dos Estado Unidos lançou o programa Energy Star. Na ocasião, o programa tinha como objetivo identificar eletrônicos de consumo que conseguiam atender aos padrões de eficiência energética. Uma espécie de proposta de reconhecimento das iniciativas que já haviam aderido, àquela época, à chamada computação ecológica e à função de modo de suspensão em todo o setor de TI.
Com base nisso, o Programa Energy Star foi aprimorado, dando origem à Ferramenta de Avaliação Ambiental de Produtos Eletrônicos (Electronic Product Environmental Assessment Tool ou Epeat), responsável por registrar produtos organizados e mantidos de acordo com critérios de desempenho que valorizam a sustentabilidade. Entre eles:
- Material sustentável;
- Esforços para a redução das emissões de gases de efeito estufa, principalmente na fabricação, no transporte e na manutenção dos produtos;
- Longevidade dos produtos por meio de designs duráveis;
- Gerenciamento do fim do ciclo de vida com práticas de reciclagem.
Depois desse momento e com o tempo, a computação eficiente em energia ampliou seu escopo e a abrangência dos seus pilares, com o setor de TI dedicando-se não só à produção de inovação e novas tecnologias, com dispositivos cada vez menores e mais rápidos, mas também preocupado em otimizar esses ativos para um modelo sustentável de ponta a ponta.
Na prática, a computação eficiente em energia requer um planejamento sustentável de toda a cadeia de serviços de TI capaz de elaborar medidas e estabelecer metas direcionadas para as diversas etapas do setor – desde a fabricação dos produtos até seu descarte.
Portanto, podemos dizer que o termo computação sustentável descreve práticas que promovem:
- A redução do consumo de energia e água em operações de TI;
- O uso de energias renováveis, como solar e eólica, para alimentar data centers;
- Processos de produção mais limpos e menor descarte de resíduos eletrônicos.
Quais são os principais elementos que caracterizam a computação verde?
Destacamos os mais relevantes a seguir.
- Eficiência energética: redução do consumo de energia em hardware e software.
- Energias renováveis: substituição de fontes de energia tradicionais por renováveis.
- Design sustentável: equipamentos projetados para maior durabilidade e facilidade de manutenção.
- Gerenciamento de resíduos eletrônicos: reciclagem e reúso de componentes tecnológicos.
- Virtualização e computação em nuvem: otimização de recursos e redução do número de equipamentos físicos.
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A importância da computação eficiente em energia no cenário atual
Com a crescente digitalização e o aumento exponencial da demanda por recursos de TI, a computação sustentável emerge como uma solução indispensável para equilibrar inovação tecnológica e sustentabilidade.
Ao minimizar os impactos ambientais, as práticas da TI ecológica harmonizam a necessidade do mercado por desempenho e competitividade das empresas e também por uma cadeia de produção mais consciente, transparente e “limpa”.
A seguir, destacamos a importância da computação eficiente em diferentes áreas.
Qual a relevância da computação eficiente em energia?
1) Importância para os data centers
Conforme abordado anteriormente, a transformação digital e o aumento do volume de dados armazenados tornam os data centers elementos cruciais na operação das empresas. Entretanto, eles também são grandes consumidores de energia e fontes de emissão de carbono, sendo responsáveis por uma parcela significativa das emissões de gases globais.
Nesse cenário, a computação eficiente em energia oferece soluções, como o uso de energias renováveis e virtualização e sistemas de refrigeração eficientes, para driblar esses problemas e reduzir os custos operacionais dos negócios.
2) Importância para a logística
A fabricação e o transporte de equipamentos de TI geram emissões significativas de gases de efeito estufa. Nesse sentido, a computação verde promove práticas como:
- Otimização de rotas logísticas, o que reduz a pegada de carbono;
- Uso de material reciclável e biodegradável, diminuindo, assim, os resíduos;
- Preferência por fornecedores locais, o que minimiza o impacto no transporte.
Essas medidas, combinadas com as outras citadas aqui, tornam a cadeia de suprimentos de TI mais sustentável e eficiente.
3) Importância para a infraestrutura geral
De escritórios a fábricas, a computação verde auxilia na construção de infraestruturas inteligentes, integrando sistemas de gestão de energia, sensores IoT e práticas de manutenção preditiva para entregar as seguintes vantagens:
- Redução do consumo energético em instalações físicas;
- Maior longevidade dos equipamentos de TI;
- Menor necessidade de atualizações e substituições constantes.
4) Importância para a experiência do usuário
Os usuários estão cada vez mais atentos à responsabilidade ambiental das empresas com as quais interagem. Inclusive, de acordo com uma pesquisa da Sherlock Communications, entre consumidores brasileiros e latino-americanos, as ações de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) são extremamente influentes na tomada de decisões.
Segundo o levantamento, 90% dos brasileiros afirmam que a responsabilidade social corporativa influencia a opinião que têm sobre as empresas.
Por isso, a adoção da computação verde é também um investimento direto no branding e na manutenção do negócio no mercado. Além disso, produtos e serviços alinhados à computação verde:
- Apresentam maior eficiência e confiabilidade;
- Atendem às expectativas de consumidores que valorizam práticas sustentáveis;
- Reforçam a imagem corporativa como responsável e inovadora.
Tais compromissos não apenas atraem mais clientes, mas também fortalecem a fidelização de quem já utiliza os serviços.
5) Importância para a área legal
Optar por práticas de computação eficiente em energia auxilia empresas a se adequarem às regulamentações ambientais, que estão se tornando mais rigorosas em diversos países. Desse modo, podemos dizer que, em relação a compliance e governança legal, o conceito de computação ecológica viabiliza que as empresas estejam à frente nestes campos:
- Cumprimento de limites de emissões de carbono;
- Garantia de descarte adequado de resíduos eletrônicos;
- Redução de multas e sanções relacionadas com a não conformidade ambiental.
No atual cenário, estar em conformidade com as normas é crucial para operar de forma legítima e competitiva no mercado global.
6) Importância a longo prazo
Como dissemos, a computação eficiente em energia cria um impacto positivo duradouro ao:
- Preservar recursos naturais para as futuras gerações;
- Reduzir os custos relacionados com o gerenciamento de resíduos e o consumo de energia;
- Posicionar as empresas como líderes no combate às mudanças climáticas.
Ao investir em sustentabilidade, as organizações garantem sua relevância no presente, construindo um legado inovador e responsável para o futuro.
Afinal, como a computação ecológica pode otimizar a eficiência energética das empresas?
Respondemos a isso em cinco passos:
- Modernização de hardware – equipamentos com maior eficiência energética consomem menos e duram mais;
- Gestão de energia inteligente – sistemas que ajustam o consumo conforme a demanda;
- Adoção de servidores virtuais – menos servidores físicos resultam em menor uso de energia e espaço;
- Refrigeração eficiente – adoção de técnicas como refrigeração líquida (liquid cooling), free cooling (uso do ar externo) e sistemas de contenimento de corredores quentes/frios;
- Transição para a energia renovável – data centers movidos a fontes renováveis.
Ou seja, com a computação verde, o setor de TI se compromete a ser um importante aliado em prol da sustentabilidade global, provando que tecnologia e consciência ambiental podem (e devem) caminhar lado a lado.
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