Por suas características singulares, tal qual a possibilidade do trabalho na nuvem, a área de tecnologia da informação sempre teve a prerrogativa de atuar em vagas não presenciais.
Entretanto, depois da pandemia, esse modelo realmente demandou metodologia específica e a adaptação das empresas para sua completa adoção.
Entre os principais desafios surgidos com base nesse contexto, encontram-se as dúvidas sobre como liderar times remotos de TI.
Se antes o presencial permitia que gestores e colaboradores trocassem informações, dúvidas e ideias frente a frente, agora, a comunicação virtual é o que guia os trabalhadores de qualquer lugar do país e do mundo. A exemplo disso, uma pesquisa da Husky, plataforma de transferências internacionais, identificou que o número de trabalhadores brasileiros que preenche vagas estrangeiras remotamente cresceu 491% entre 2020 e 2022.
Essa tendência não é novidade no mercado. Inclusive, em 2018, o IBGE já mensurava 3,8 milhões de cargos em home office oficialmente ocupados.
Ocorre que, diante da necessidade crescente por profissionais qualificados para TI e da pouca oferta de mão de obra de alto valor agregado, as organizações têm preferido ampliar seu campo de avaliação de currículos para encontrar os profissionais com as habilidades certas.
Com isso, é necessário desenvolver um plano estratégico de liderança e gestão do capital humano voltado para a dinâmica remota, que é totalmente diferente de qualquer outra sistemática.
Neste artigo, vamos mostrar algumas dicas que podem contribuir com essa tarefa. Continue conosco.
O que o profissional de RH em TI precisa saber sobre o trabalho remoto?
O trabalho remoto foi regulamentado oficialmente por meio da Reforma Trabalhista de 2017, sendo considerado um dos modelos corporativos de atuação profissional.
Para funcionar com efetividade, seja por registro CLT, seja por contrato de prestação de serviço ou vagas de freelancer, vagas desse tipo devem ser pautadas pela flexibilidade, autonomia dos funcionários e pela necessidade de processos bem estruturados.
É comum, inclusive, que esses cargos acompanhem outras desburocratizações da rotina de trabalho, como adaptabilidade da carga horária.
Além disso, é importante diferenciar o remoto do home office: enquanto o primeiro indica um emprego conduzido de qualquer lugar (nowhere office), o outro é o que diz respeito ao trabalho realizado na casa do colaborador.
Mesmo diante de tais flexibilizações, contratante e contratado ainda possuem vínculo jurídico e precisam estar atentos à previsibilidade legal dessa relação.
Por isso, o primeiro passo para os profissionais de RH entenderem como liderar times remotos de TI é dominar o que a lei diz sobre tais tipos de vaga.
6 Dicas para liderar times remotos de TI
Depois da checagem da lei sobre o assunto, cabe destacar também que o trabalho remoto não deve seguir a mesma dinâmica do presencial.
Tentar espelhar um modelo no outro é um erro bastante comum das organizações e acaba prejudicando a produtividade das equipes.
Liderar times remotos de TI é entender as especificidades desse modelo de vaga.
Por isso, é válido discutir com a empresa o motivo da abertura desses postos de trabalho, o que se espera com eles e quais serão as metodologias aplicadas para assegurar a qualidade dos serviços, entre outros questionamentos.
Depois disso, algumas outras orientações podem auxiliar a equipe de gestão de pessoas a lidar com o panorama de atividades remotas.
1) Transparência é o elemento-chave
As vagas de trabalho remoto dependem, sobretudo, de uma relação de confiança entre gestores e colaboradores.
Para isso, ter transparência no escopo de trabalhos e projetos e no acompanhamento de indicadores internos e de produtividade, além de na comunicação, é o que vai garantir o sucesso dessa vaga.
Estabeleça uma relação próxima com os funcionários, com encontros periódicos (vamos retomar essa dica ao longo do texto) em um tom bastante franco de conversa.
Ou seja, é necessário o alinhamento das expectativas do contratado e da contratante, além do entendimento fiel do propósito da empresa.
- Qual a expectativa de entrega para essa vaga?
- Como a empresa colabora para que esse objetivo seja conquistado?
- Como o profissional lida com essa expectativa?
Essas são algumas perguntas que podem orientar o RH na construção de um vínculo transparente e objetivo com o trabalhador de TI remoto.
2) Gerencie a equipe com o auxílio da tecnologia
Possibilitar o ingresso de colaboradores por meio do trabalho remoto está automaticamente associado à adoção de ferramentas tecnológicas para a gestão dessas vagas.
Existem inúmeras plataformas de gerenciamento de projetos, como Kanban, Runrun.it, Trello, bem como para a conferência de horas trabalhadas, a exemplo do ponto digital.
Escolha aquela que melhor se adapta às necessidades da sua empresa, faça um treinamento da ferramenta com os colaboradores e estabeleça um tempo de teste inicial da tecnologia.
Com ela integralmente implementada, gerencie os projetos de forma metódica e processual, se atendo aos comandos da plataforma. É necessário centralizar a gestão de conhecimento e os arquivos de aprendizagem dos projetos. Por isso, utilize as ferramentas com o suporte de processos bem definidos para que nada se perca.
Alguns exemplos de programas para gerenciamento de projetos e organização dos times de TI remotos:
3) Garanta as condições ideais de trabalho
Mesmo que a empresa não possa arcar com os custos de equipamentos novos para cada um dos colaboradores remotos, é fundamental que ela se certifique das condições de trabalho dos funcionários.
Pensar em uma parceria com fornecedores de internet, para proporcionar esse serviço aos times remotos de TI, pode ser uma alternativa interessante.
Além disso, realizar encontros periódicos com os colaboradores para entender como a dinâmica do trabalho virtual se reflete na rotina desses sujeitos é importante. Crie um roteiro, um checklist com perguntas que consigam mensurar a qualidade estrutural do trabalho remoto para cada funcionário. Ou seja, acompanhe o desempenho desse trabalhador.
Exemplos de perguntas que podem estar no seu roteiro:
- No último mês, existiu alguma intercorrência de estrutura ou equipamento que impediu a execução do trabalho?
- Qual sua principal queixa em relação à estrutura e ao equipamento atualmente?
- Como você acha que a empresa poderia ajudar você a trabalhar melhor no modelo remoto?
Com as respostas, os gestores podem refletir sobre como otimizar o trabalho remoto e desenvolver melhorias para esse tipo de vaga. O importante é alinhar as expectativas de todas as partes envolvidas com a realidade e com as possibilidades, tanto da empresa quanto do trabalhador.
4) Reuniões quando necessárias
Um dos diferenciais do trabalho remoto é incentivar as lideranças a entenderem de fato o que deve ser levado para uma reunião, o que deve ser direcionado para um e-mail ou o que convém ser enviado por mensagens na plataforma de comunicação adotada pelos funcionários.
Sabendo que o contato, mesmo virtualmente, precisa ser efetivo, e não um transtorno para os colaboradores, o RH precisa auxiliar as equipes produtivas a entenderem quando elas precisam de reunião, com que frequência, quais os objetivos dos encontros e o que se espera desses momentos.
Assim, tenha em mente que as reuniões devem proporcionar:
- Insights para melhorias de serviço e processos;
- Fortalecimento da relação da equipe;
- Atualização, para todos os membros, de projetos e missões da empresa, entre outros quesitos.
Faça as reuniões quando realmente houver uma motivação para tal, pois de nada adianta adotar o trabalho remoto de TI se a liderança não confia em seus trabalhadores e vice-versa.
Algumas reuniões que podem fazer parte da rotina de um profissional de TI remoto:
- Para a elaboração do escopo de um novo projeto;
- Para o repasse das atividades dos projetos (mais direcionadas e compartimentadas entre os times envolvidos em cada etapa do projeto);
- Para debater o ritmo da empresa até ali, bem como falar dos clientes e de assuntos pertinentes a todos;
- Reunião do líder com o funcionário para feedback semanal ou mensal;
- Descontração e aproximação dos membros etc.
5) Métricas e indicadores continuam importantes
Assim como no presencial, liderar times remotos de TI requer o acompanhamento de métricas e indicadores.
- Indicadores de produtividade
- Indicadores de qualidade de um projeto
- Indicadores de satisfação com o trabalho
Esses são exemplos de metas que podem compor o escopo de gestão de vagas remotas. Entre eles, as mais tradicionais são a lead time e cycle time, que medem o tempo de reação dos times virtuais, e tThroughput (vazão), que mensura o volume de trabalho concluído num determinado espaço de tempo, além da ocorrência de bugs, que vai indicar não só a quantidade de entregas, como a qualidade delas.
6) A comunicação também é orientada por ferramentas
Nos casos em que há a necessidade de se liderarem times remotos de TI, assim como no gerenciamento dos projetos, a comunicação da empresa depende do uso de ferramentas adequadas. Teste as que têm melhor aceitação na organização e as utilize com precisão.
Exemplos de ferramentas comunicacionais para times de TI:
- Discord – é um chat que possibilita que colaboradores e gestores conversem entre si em diferentes canais;
- Miro – a plataforma otimiza a realização de atividades criativas e que demandem brainstorming e trabalho em equipe;
- Telegram – como o WhatsApp, permite criação de grupos e proporciona a troca de mensagens instantâneas para um grande número de pessoas. Pode ser usado como lista de transmissão de avisos etc.;
- E-mail – já tradicional na rotina corporativa, utilizar o e-mail, com uma abordagem objetiva e visual, é ótima ideia.
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Para além dessas dicas básicas sobre como liderar times remotos de TI, o departamento de RH precisa ter sensibilidade para compreender que as vagas, embora virtuais, ainda são ocupadas por pessoas. Por isso, é essencial acompanhar a satisfação do trabalho desses colaboradores, bem como proporcionar momentos de quebra de rotina, treinamentos para aperfeiçoamento técnico e pessoal, detalhamento minucioso dos projetos da organização e das competências necessárias para realizá-los.
Liderar equipes remotas de TI é uma tarefa desafiadora, que exige uma metodologia específica para esse modelo. Quando isso ocorre, as chances de sucesso são grandes.
O importante é garantir que o empecilho da distância seja superado por outras vantagens, como troca cultural e geográfica, networking de experiências de trabalho e maior satisfação dos funcionários com o que fazem, entre outros benefícios.