Em tradução livre, Protocolo OSPF, ou Open Shortest Path First, significa “escolher o caminho mais curto primeiro”. Por isso, entender como ele funciona faz parte das premissas de quem se interessa pela área da tecnologia ou já é um profissional do mercado.
Criado em 1988 pelo grupo de trabalho de Interior Gateway Protocol (IGPs), da Internet Engineering Task Force (IETF), essa tecnologia de roteamento surgiu como uma resposta às limitações do Routing Information Protocol (RIP), que apresentava baixo desempenho em ambientes complexos por causa da métrica simplificada de contagem de saltos e do limite de apenas 15 saltos.
Ao contrário disso, o OSPF adota o modelo link-state, no qual cada roteador mantém uma base de dados com informações detalhadas sobre a topologia da rede e, por meio do algoritmo de Dijkstra, calcula de forma autônoma o melhor caminho para encaminhar pacotes IP.
Na prática, o Protocolo OSPF não depende de informações simplistas, como a contagem de saltos. Em vez disso, considera o menor custo acumulado até o destino, calculado com base na largura de banda dos enlaces.
Combinado com uma estrutura hierárquica em áreas, o protocolo seleciona as rotas mais eficientes e garante maior escalabilidade e resiliência da topologia. Essa abordagem permite que mudanças ou falhas em um segmento da rede tenham impacto limitado sobre o restante da infraestrutura.
Essa robustez garante convergência rápida e alta escalabilidade, enquanto a aderência a um padrão aberto assegura a interoperabilidade entre equipamentos de diferentes fabricantes, algo crucial em redes corporativas, acadêmicas e governamentais.
Por esses motivos, mesmo em 2025, quase quatro décadas após sua criação, o OSPF segue como um dos protocolos de roteamento mais utilizados em redes corporativas, tanto em ambientes de campus quanto em data centers, sendo considerado um verdadeiro “padrão de mercado”.
Dessa forma, além de compreender sua origem, é essencial dominar seu funcionamento, sua lógica de organização em áreas e suas práticas de otimização, já que o protocolo continua como parte central das certificações de rede mais reconhecidas globalmente (como Cisco CCNP, CompTIA Network+, Aruba (ACSP) e Juniper JNCIP).
A seguir, você vai compreender um pouco mais sobre esse conceito e sobre como ele ocorre no dia a dia de TI. Trata-se de um verdadeiro GUIA sobre o assunto.
1) O que é o Protocolo OSPF?
Como dissemos anteriormente, o OSPF é um protocolo de roteamento dinâmico. De forma geral, podemos compará-lo com um GPS que observa quais são as rotas possíveis para se chegar a determinado destino, optando por aquela que será concluída em menor tempo ou sem trânsito.
Em outras palavras, o Protocolo OSPF descobre a topologia da rede, identifica os enlaces disponíveis e seleciona as rotas de menor custo com base na largura de banda de cada conexão, usando, tradicionalmente, a seguinte fórmula (em equipamentos Cisco):
Custo = 100 Mbps / Largura de banda do enlace (em Mbps)
Isso significa que quanto maior for a largura de banda, menor será o custo do enlace e, portanto, ele será o preferido para o tráfego IP.
Entretanto, nas redes corporativas atuais, em que são comuns enlaces de alta capacidade, como 10 Gbps, 40 Gbps e 100 Gbps, o valor de referência padrão (100 Mbps) deve ser alterado, na configuração dos roteadores, de modo a representar adequadamente a capacidade real da rede e manter a proporcionalidade dos custos entre os enlaces.
O protocolo OSPF consegue, assim, analisar, interpretar e registrar dados dos roteadores para, posteriormente, escolher o melhor caminho para entregar os pacotes IP. Trata-se, portanto, de uma tecnologia que atualiza dinamicamente a tabela de rotas, ou seja, realiza o roteamento dinâmico cujos protocolos podem ser divididos em:
- Vetor de distância – como RIP, RIPv2 e EIGRP, que escolhem a rota pela contagem de saltos.
- Link-state – como OSPF e IS-IS, que constroem um mapa completo da rede e calculam rotas mais eficientes com base nos custos dos enlaces.
Nesse cenário, é importante observar que o EIGRP é considerado um protocolo híbrido, pois, apesar de utilizar fundamentalmente vetores de distância, incorpora mecanismos que aumentam a eficiência e a confiabilidade do roteamento. Dessa forma, aproxima-se, conceitualmente, dos protocolos Link-state.
Tal abordagem evidencia a tendência de evolução dos protocolos de roteamento em direção a métodos mais precisos, como os empregados pelo OSPF.
Essa diferença é crucial, pois enquanto um protocolo de vetor de distância pode tomar decisões simplistas, o OSPF avalia toda a topologia para garantir desempenho, estabilidade e eficiência.
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Veja também: Mecanismos de segurança em protocolos de roteamento IP: afinal, quais são?
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Como funciona o protocolo OSPF?
O funcionamento do protocolo OSPF está diretamente ligado ao algoritmo de Dijkstra, desenvolvido pelo cientista Edsger Dijkstra.
Esse algoritmo é responsável por calcular a árvore Shortest Path First (SPF), estrutura que permite determinar a rota mais eficiente dentro de uma rede.
Em um ambiente OSPF, cada roteador participante mantém uma base de dados da topologia, que é chamada Link-State Database (LSDB).
A LSDB é frequentemente alimentada por informações recebidas dos demais roteadores, por meio de mensagens descentralizadas, como Hello, Database Description (DBD), (Link State Request (LSR), Link State Update (LSU), Link State Acknowledgment (LSAck) e Link State Advertisement (LSA).
Essas mensagens asseguram que todos os roteadores tenham uma visão consistente da topologia atual, evitando rotas incorretas e desatualizadas, além de garantir uma topologia livre de loops.
Na prática, isso significa que o roteador OSPF não depende de instruções externas para decidir por quais enlaces de dados encaminhar o tráfego IP. Ele observa a rede como um todo, identifica os enlaces disponíveis e calcula, de forma autônoma, o caminho de menor custo.
Esse custo não se refere à distância física ou ao número de saltos entre roteadores, mas à largura de banda dos links de dados existentes na topologia, como destacado anteriormente, resultando em decisões mais eficientes do que aquelas obtidas com protocolos do tipo vetor de distância, como o RIP.
Outro ponto fundamental é que cada roteador, em um ambiente OSPF, deverá possuir uma identificação, denominada RouterID. Essa identificação – normalmente no formato de um endereço IPv4 – pode ser fornecida manualmente ou definida automaticamente pelo maior endereço IP ativo em uma interface loopback.
Na ausência de interfaces loopback, o maior endereço IP ativo será obtido em qualquer interface física.
Cabe observar que se o endereço IP selecionado for atualizado, para que o RouterID seja alterado, é necessário reiniciar o roteador.
Em outras palavras, o Router ID, o maior IP entre as interfaces ativas no momento da inicialização do processo OSPF, não muda automaticamente se o IP for alterado depois.
Por fim, a escalabilidade do Protocolo OSPF é reforçada pelo conceito de áreas OSPF. Em vez de tratar toda a topologia de maneira plana, a rede pode ser dividida em áreas hierárquicas, cada uma resumindo rotas locais para reduzir o processamento e o tráfego de atualização.
Cabe destacar que em toda configuração OSPF, torna-se necessário definir o que conhecemos como Área 0 (Backbone), e todas as demais áreas devem se conectar à Área 0 diretamente ou por meio de roteadores de borda de área (ABR).
Existem também variações de áreas com funcionalidades específicas, como:
- Stub Area – bloqueia mensagens LSAs que propagam rotas externas relacionadas com redes que não fazem parte do domínio OSPF, com o objetivo de reduzir a tabela de rotas.
- Totally Stubby Area – bloqueia mensagens LSAs de rotas externas e as de resumo (agregada), sendo caracterizadas pelo recebimento de rotas default do roteador ABR.
- NSSA (Not-So-Stubby Area) – permite apenas rotas externas limitadas.
Esse modelo hierárquico aumenta o desempenho e torna o protocolo aplicável a redes corporativas de grande porte, assegurando eficiência mesmo em cenários de alta complexidade.
| Em resumo, o protocolo OSPF alia inteligência algorítmica, padronização e organização hierárquica para entregar rotas rápidas, estáveis e escaláveis, consolidando-se como uma das soluções mais robustas de roteamento dinâmico disponíveis até hoje. Entenda visualmente o funcionamento do Protocolo OSPF Etapa 1: Construção da base da topologia Cada roteador coleta informações dos enlaces da rede. Essas informações são armazenadas em uma Link-State Database (LSDB). Etapa 2: Troca de mensagens entre roteadores Os roteadores sincronizam a base trocando LSAs por meio de mensagens LSU. Hello → Descoberta de vizinhos. DBD (Database Description) → Resumo da base de dados. LSR (Link State Request) → Pedido de informações faltantes. LSU (Link State Update) → Atualização com detalhes completos. LSAck (Acknowledgment) → Confirmação de recebimento. Etapa 3: Execução do algoritmo Dijkstra O Protocolo OSPF aplica o algoritmo Shortest Path First (SPF). Uma árvore de menor custo é construída. Cada nó (roteador) calcula sua própria tabela de roteamento IP. Etapa 4: Escolha da rota mais eficiente Critério considerado: •Custo do enlace (largura de banda/tempo). •O tráfego IP segue pelo caminho de menor custo. Etapa 5: Estruturação em áreas OSPF A rede é dividida em áreas hierárquicas. Isso reduz o tráfego de atualização e melhora a escalabilidade. O backbone (Área 0) conecta todas as demais áreas. Resultado final: Rotas mais rápidas e confiáveis. Convergência rápida. Eficiência em redes de grande porte. |
2) Comparando protocolos de roteamento: RIP, OSPF, EIGRP e BGP
Antes de entender por que o Protocolo OSPF ainda se mantém tão atual, vale compará-lo com outros protocolos de roteamento amplamente utilizados.
Essa comparação ajuda a visualizar em quais cenários cada tecnologia se destaca e quando o protocolo OSPF é mais vantajoso.
| Protocolo | Uso pelo sistema autônomo (AS) | Tipo | Métrica principal | Vantagens | Limitações | Uso típico |
| RIP | Interior Gateway Protocol | Vetor de distância | Número de saltos (máx. 15) | Simples de configurar, fácil aprendizado | Escalabilidade muito baixa, convergência lenta | Redes pequenas e legadas |
| OSPF | Interior Gateway Protocol | Link-state (padrão aberto) | Custo baseado em largura de banda | Escalável, convergência rápida, interoperável entre fabricantes | Exige maior conhecimento técnico para configuração | Backbones, data centers e redes corporativas |
| EIGRP | Interior Gateway Protocol | Híbrido (vetor avançado) | Largura de banda, atraso, confiabilidade | Convergência rápida, eficiente em ambientes Cisco | Proprietário (menos compatibilidade entre fabricantes) | Redes Cisco-only |
| BGP | Exterior Gateway Protocol | Path-vector | Atributos de caminho e políticas | Escalabilidade global, controle de políticas complexas | Alta complexidade, não é ideal como IGP interno | Roteamento entre sistemas autônomos (provedores, Internet) |
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Veja também: Protocolo OSPF vs. BGP: 10 principais diferenças dos modelos de roteamento
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3) O protocolo OSPF ainda é atual?
Embora criado há mais de 35 anos, o protocolo OSPF permanece relevante, conforme demonstrado pela tabela anterior. Sua arquitetura robusta e adaptável garante que ele continue sendo a preferência de redes de grande escala em 2025.
Além disso, a constante evolução do protocolo, com a adição de recursos como a otimização para IPv6 (OSPFv3) e melhorias na engenharia de tráfego, o mantém na vanguarda do roteamento dinâmico.
Há na tecnologia uma capacidade de lidar com a complexidade das redes corporativas e de data centers que, somada a um padrão aberto, faz com que o Protocolo OSPF seja uma tecnologia duradoura.
4) O valor do Protocolo OSPF para empresas
Para gestores e líderes de negócios, a otimização da infraestrutura de TI é uma prioridade. Nesse cenário, o protocolo OSPF se destaca como um ativo estratégico, garantindo que o tráfego IP das empresas siga sempre o caminho mais eficiente, melhorando o desempenho de aplicações, reduzindo a latência e assegurando a resiliência da rede.
A adoção do Protocolo OSPF se traduz em um ambiente de TI mais ágil e confiável, capaz de suportar o crescimento do negócio sem a necessidade de investimentos contínuos em infraestrutura.
No mais, a flexibilidade para trabalhar com equipamentos de diferentes fabricantes oferece maior poder de negociação e reduz a dependência de um único fornecedor, gerando economia a longo prazo.
Treinar a equipe para atuar com essa abordagem pode ser um grande diferencial para qualquer organização.
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