Há oito anos, o Pokémon Go popularizava os recursos da realidade aumentada (RA) e se preparava para ser um dos games mais rentáveis da história. Depois de seu lançamento por John Hanke, em julho de 2016, o jogo movimentou a bilheteria desse mercado e foi baixado em milhares de smartphones, além de ter envolvido usuários de diferentes faixas etárias na sua narrativa de caça aos personagens da saga japonesa.
De acordo com a última análise de dados sobre o desempenho do aplicativo, publicada em 2022 pela Sensor Tower, o Pokémon Go teria ultrapassado, àquela época, a marca de 6 bilhões de dólares, com uma taxa de rendimento de, em média, US$ 1 bilhão ao ano, desde o seu lançamento. Esse sucesso representou não só uma virada de chave no cenário dos jogos, como deu visibilidade ao potencial da RA nos mais diversos segmentos.
Na prática, a realidade aumentada é descrita como uma tecnologia que sobrepõe imagens digitais no ambiente real como forma de enriquecer a experiência do usuário, mesclando o mundo físico e tátil com elementos virtuais (objetos, personagens etc.) que podem interagir com o espaço ao redor em tempo real.
Embora a ferramenta só tenha sido proposta com esse nome – realidade aumentada (RA) – em 1992, por Thomas P. Caudell, durante o desenvolvimento do Boeing 747, suas bases históricas datam de bem antes.
Em 1901, o escritor de O Mágico de Oz, L. Frank Baum, no conto “The Master Key”, descreve um presente dado ao personagem principal da obra – um par de óculos eletrônicos capaz de mostrar informações adicionais sobre as pessoas. Tem-se que essa foi a primeira menção, ainda que de forma futurista e abstrata, do que viria a se tornar o recurso tecnológico.
Atualmente, a realidade aumentada e a inteligência artificial são consideradas as grandes tendências do universo da tecnologia, tendo o protótipo Orion Glass, da Meta, como o mais novo avanço relacionado com a primeira inovação.
Segundo a Meta, o Orion Glass representa a evolução dos óculos de realidade aumentada, já que une o mundo físico ao virtual com uma projeção de imagens em um cone de até 70º. Com ele, a empresa pretende dar um grande salto na computação orientada para o ser humano, possibilitando experiências digitais que não estão restritas aos limites da tela de um smartphone.
Embora ainda se trate de uma versão de teste, o Orion Glass demonstra o potencial de interação que a realidade aumentada vai estabelecer com atividades rotineiras nos mais variados mercados, inclusive no de treinamentos.
A seguir, vamos conversar com mais detalhes sobre o uso da RA em um desses nichos: o da educação em TI.
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O que é realidade aumentada?
Como mencionamos anteriormente, a realidade aumentada representa uma tecnologia capaz de integrar um conteúdo virtual ao ambiente real, ou seja, por meio da conexão entre software e hardware, a RA sobrepõe elementos virtuais ao mundo real, proporcionando uma experiência 3D transformadora ao usuário. Trata-se de uma versão aprimorada e interativa do espaço físico, obtido com a ajuda de elementos visuais e sonoros, além de estímulos sensoriais digitais por intermédio de uma tecnologia holográfica.
O funcionamento da realidade aumentada demanda, essencialmente, os seguintes componentes:
Componentes | Explicação |
Câmeras, lentes e dispositivos | Capturam o ambiente real e integram elementos virtuais à imagem, permitindo que o usuário visualize o conteúdo aumentado e interaja com ele. |
Sensores | Detectam a posição, o movimento e a orientação do dispositivo para alinhar, com precisão, os objetos virtuais ao mundo real. |
Computação | Processa as informações coletadas pelos sensores e câmeras para gerar e renderizar os elementos de RA em tempo real. |
Gêmeo digital | Réplica 3D digital de um objeto, armazenada na nuvem, que pode ser visualizada e manipulada pela RA. |
Download das informações pelo dispositivo de realidade aumentada | O dispositivo baixa os dados necessários (como gêmeos digitais ou informações contextuais) para integrar e apresentar elementos virtuais. |
Inteligência artificial e dados em tempo real que vêm dos produtos | A IA processa dados em tempo real, permitindo que o usuário interaja de forma inteligente e adaptativa com os elementos virtuais. |
Ficou mais fácil compreender? Além do conceito, é fundamental que os profissionais de TI e os interessados na área reconheçam as diferenças existentes entre realidade aumentada (RA), realidade virtual (RV) e realidade mista (RM). É isso que vamos destrinchar a partir de agora.
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Qual a diferença entre realidade aumentada, virtual e mista?
Vamos abordá-las a partir de agora:
1) Realidade aumentada
Recordando o já exposto, sabemos que a realidade aumentada (RA) consiste na sobreposição de elementos digitais ao ambiente físico real. A RA utiliza dispositivos como smartphones, tablets e óculos especiais para integrar gráficos, textos ou outros tipos de dados ao mundo ao nosso redor, enriquecendo a percepção do ambiente.
Além do clássico e abordado anteriormente Pokémon Go, em que personagens virtuais são visualizados e interagem com o mundo real por meio da tela do celular, o aplicativo IKEA Place também pode ser enquadrado como representante da RA. Com ele, os usuários podem visualizar móveis e objetos de decoração em seus próprios ambientes antes de comprá-los.
2) Realidade virtual
Enquanto isso, a realidade virtual (RV) envolve a criação de um ambiente totalmente digital, no qual o usuário é imerso com a ajuda de dispositivos, como óculos de RV.
Diferente da RA, a RV substitui completamente o ambiente físico, propondo que o usuário explore um mundo criado digitalmente e interaja com ele.
É comumente utilizada em jogos, simulações de treinamento e experiências imersivas, nos quais a sensação de presença em um ambiente alternativo é fundamental.
3) Realidade mista
Já a realidade mista (RM) combina elementos tanto da RA quanto da RV, criando uma interação mais sofisticada entre o mundo real e o virtual.
Na RM, objetos virtuais não só aparecem no ambiente real, mas também interagem com ele de maneira mais complexa. Isso significa que um objeto digital pode ser influenciado por condições do mundo físico, como a iluminação ou a presença de outros objetos.
Esse tipo de tecnologia é visto em dispositivos avançados, como o Microsoft HoloLens, por meio do qual o digital e o físico se fundem para criar experiências altamente interativas.
Cada uma dessas tecnologias tem as próprias aplicações e potencial de transformar setores, como educação, entretenimento, saúde e indústria.
Qual a relação entre a RA e a educação?
Na educação, a realidade aumentada (RA) apresenta-se como um recurso tecnológico inovador, responsável por proporcionar uma dimensão inédita ao ensino e ao aprendizado. Por intermédio da interação desses campos, o ambiente educacional se torna dinâmico e mais completo, além de atrativo.
A possibilidade de sobrepor elementos virtuais aos localizados na esfera do real resulta no detalhamento de conceitos complexos e em maior interatividade com os estudos teóricos, assim como em maior participação.
No trabalho acadêmico “Além da lousa: explorando o potencial da realidade aumentada no ambiente educacional”, os autores reverberam e destacam essa agregação de capacidades:
Um aspecto crucial na aplicação da Realidade Aumentada na educação é a sua capacidade de adaptar-se a diferentes estilos de aprendizagem. ARAPI (Aprendizagem por Realidade Aumentada e Processo de Inovação), por exemplo, é um modelo pedagógico que integra a RA ao processo de ensino e aprendizagem, considerando as características individuais dos alunos e promovendo uma abordagem personalizada (WU, LEE, CHANG, & LIANG, 2013). Essa adaptação à diversidade de estilos cognitivos dos estudantes pode resultar em uma maior eficácia no processo de ensino. Ademais, a Realidade Aumentada não se restringe apenas ao ambiente acadêmico tradicional.
No campo da educação a distância, a RA oferece possibilidades inovadoras, superando as barreiras físicas e promovendo a interação em ambientes virtuais (DUNLEAVY, DEDE, & MITCHELL, 2009). Através de aplicativos e dispositivos móveis, os alunos podem acessar conteúdos enriquecidos pela RA, participando de atividades práticas mesmo a distância (MEROTO et. al, 2024)*
*MEROTO, Monique Bolonha das Neves; GUIMARÃES, Christiane Diniz; SILVA, Claudia Kreuzberg da; SILVA, Dinaléia Araújo da; ARAÚJO, Fábio José de; SÁ, Gilmara Benício de; CARVALHO, Ianan Eugênia de; BEZERRA, Olinderge Priscilla Câmara. Além da lousa: explorando o potencial da realidade aumentada no ambiente educacional. Revista Foco, v. 17, n. 1, p. 50, 2023. DOI: 10.54751/revistafoco.v17n1-050. Disponível em: https://ojs.focopublicacoes.com.br/foco/article/view/4114/2891. Acesso em: 16 ago. 2024. |
Como a realidade aumentada pode ser aplicada e trazer benefícios para o ensino e a aprendizado em TI?
Afunilando a análise de interseção entre educação e RA, no campo da Tecnologia da Informação (TI), observamos que a tecnologia oferece um conjunto vasto de possibilidades que podem transformar a maneira como os profissionais aprendem e se desenvolvem.
A RA facilita a compreensão de conceitos complexos, aprimora a interatividade durante o aprendizado e proporciona experiências imersivas que são difíceis de reproduzir por meio de métodos tradicionais. Veja alguns exemplos:
- Visualização de conceitos abstratos – a RA permite que conceitos teóricos em TI, como algoritmos, estruturas de dados, redes e arquitetura de sistemas, sejam visualizados em modelos 3D sobrepostos ao ambiente real.
Por exemplo, ao estudar o funcionamento de uma rede de computadores, os alunos podem usar a RA para visualizar o tráfego de dados, a configuração de roteadores, os switches e outros componentes da rede em tempo real, facilitando a compreensão de como esses elementos interagem.
- Laboratórios virtuais – em vez de depender exclusivamente de laboratórios físicos, a RA possibilita a criação de ambientes de aprendizado, nos quais os alunos podem simular a montagem de computadores, realizar testes de software ou configurar redes em um espaço virtual.
Em instituições que não dispõem de recursos avançados ou em programas de ensino a distância, em que o acesso a laboratórios físicos pode ser limitado, essa característica é bastante útil.
- Treinamento prático com interatividade – profissionais de TI podem se beneficiar de treinamentos práticos oferecidos com a RA, visto que eles podem simular cenários do mundo real em um ambiente seguro e controlado.
Um exemplo disso é o uso da RA para recriar ataques cibernéticos, o que permite que os alunos pratiquem a resposta a incidentes de segurança sem causar danos reais. Os cenários interativos ajudam a reforçar o aprendizado, por meio de uma abordagem prática e visual. - Desenvolvimento de soft skills – além do conhecimento técni, a RA pode ser utilizada para desenvolver habilidades interpessoais, como comunicação e trabalho em equipe, essenciais no ambiente de TI.
Simulações de reuniões virtuais ou workshops de colaboração, em que os participantes interagem com avatares ou objetos digitais, e atendimento a clientes podem aprimorar as habilidades dos alunos de se comunicarem eficazmente em projetos de TI. - Gamificação no aprendizado – a RA também pode ser usada para gamificar o aprendizado em TI, criando desafios e missões que os alunos precisam completar.
Por exemplo, eles podem ser desafiados a “consertar” uma rede em um ambiente de RA, em que cada etapa superada representa uma fase do jogo, promovendo uma aprendizagem mais divertida e motivadora.
- Acesso à Educação Continuada – a RA facilita o acesso a conteúdos educacionais de forma contínua e atualizada, essencial em um campo tão dinâmico quanto a TI.
Nesse contexto, os profissionais podem utilizar aplicativos de RA para acessar tutoriais, workshops e guias técnicos diretamente em seus dispositivos móveis, permitindo que aprendam novas tecnologias e práticas enquanto estão no ambiente de trabalho.
A realidade aumentada, ao ser integrada ao ensino e ao aprendizado em TI, promove uma educação prática, interativa e adaptável às necessidades dos profissionais.
Uma vez que ela supera antigos desafios de compreensão, apresentando novas possibilidades de ensino, também transforma toda a área de TI, uma forma mais eficaz para enfrentar os percalços do mercado.
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