TI Verde: o papel da tecnologia e das organizações diante da urgência da sustentabilidade

TI Verde

O conceito de TI Verde está diretamente conectado aos modelos de gestão que priorizam a eficiência operacional aliada à demanda por compromisso e responsabilidade socioambiental por parte das organizações. 

Como resultado de um debate histórico, que teve desenvolvimento na década de 60 do século passado, a finalidade dessa agenda de sustentabilidade é garantir uma atitude mais comprometida e proativa de atores sociais amplamente reconhecidos por desempenharem um papel significativo na estrutura de mercado e na vida cotidiana, ou seja, empresas públicas e privadas, envolvendo-os na busca por um modelo de desenvolvimento mais sustentável, em que a tecnologia da informação é vista como importante ferramenta capaz de auxiliar as instituições a adotarem práticas, atividades, processos e gestões cada vez mais sustentáveis.

Neste artigo, vamos conversar mais sobre a Agenda ESG no ambiente corporativo e qual o papel da TI Verde na construção de uma sociedade mais justa e sustentável.

Como surgiu a demanda por uma Agenda ESG nas organizações? 

O Environmental, Social e Governance (ESG) surgiu em 2004, em uma publicação do Banco Mundial, em parceria com o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) e com instituições financeiras de nove países, chamada “Who cares wins” (Ganha quem se importa). 

Na época, o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pretendia que o documento se apresentasse como uma espécie de provocação e convite à reflexão de 50 CEOs de grandes instituições financeiras do mundo sobre como integrar os fatores ESG ao mercado de capitais. Serviu, assim, como base para todas as futuras considerações acerca da combinação de critérios ambientais, sociais e de governança corporativa às rotinas das instituições e a seus processos, entendendo que as atividades ESG precisariam ser amplamente colocadas em prática e mensuradas pelas empresas. 

Como resultado, as instituições que se preocuparam com a pauta passaram, gradativamente, a gozar de melhor reputação e serem priorizadas por clientes e investidores em suas decisões de melhor alocação de recursos e outras práticas sustentáveis. 

Embora a sigla tenha ganhado uma alcunha oficial nos anos 2000, o termo “sustentabilidade” precede uma construção histórica um pouco mais antiga, com outros marcos importantes para a evolução do tema. 

Principais marcos temporais na pauta da sustentabilidade organizacional 

Nos últimos 60 anos, passou-se a discutir mais intensamente a necessidade de um modelo de desenvolvimento sustentável, sobretudo por causa das constantes crises que o formato inaugurado pós-Revolução Industrial ocasionou.

Desde o século XVIII, tal modelo, focado na expansão econômica contínua da sociedade, produziu riquezas e bem-estar, mas também contribuiu para o agravamento de problemas graves, como profundas desigualdades sociais e desequilíbrio ambiental. 

Nessa dinâmica, as atividades humana e empresarial das décadas passadas, baseadas no progresso ininterrupto, transformaram e romperam aquilo que se chama, em uma abordagem recente, “limites planetários”, entre os quais estão:

  • Perda de biodiversidade;
  • Contaminação química de ecossistemas;
  • Problema no uso inadequado dos solos ante o desafio da urbanização crescente;
  • Mudanças climáticas.

Mesmo que os efeitos negativos dessa abordagem tenham se tornado mais visíveis atualmente, ao longo do tempo, várias iniciativas abordaram a necessidade de uma agenda mais sustentável na sociedade.

A exemplo disso, o Relatório Brundtland, intitulado Nosso Futuro Comum, publicado em outubro de 1987, definiu desenvolvimento sustentável como “o desenvolvimento que procura satisfazer às necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as próprias necessidades”. Em outras palavras, um modelo que permita um padrão de vida e estilo de consumo que não pressione excessivamente os sistemas produtivos e a exploração dos recursos naturais do presente para que, dessa forma, as futuras gerações possam gozar dos mesmos direitos e oportunidades.  

Para além, a popular Agenda 2030 da ONU, publicada em 2015, estabeleceu 17  Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), desdobrados em 169 metas e 254 indicadores, para orientar políticas públicas capazes de endereçar soluções para o desenvolvimento sustentável. 

Mas, afinal, o que é a Agenda ESG na prática?

A Agenda ESG nada mais é do que um amadurecimento, historicamente construído, do papel social das organizações que passa a ser entendido por uma ótica da responsabilização. 

Nessa abordagem, as empresas precisam assumir uma nova responsabilidade corporativa, que englobe critérios econômicos, ambientais e sociais associados a práticas de governança adequadas, que sejam capazes de capitanear soluções para os desafios da sustentabilidade. 

Assim, passa-se a pensar em quais são os papéis que as organizações precisam assumir, bem como quais as contribuições que elas devem dar à sociedade nas três frentes – ambiental, social e de governança

  • Ambiental: compromisso da empresa com a redução do desperdício, da emissão de gases de efeito estufa e de resíduos poluidores, bem como a implementação de reciclagem e a reutilização de materiais e insumos, entre outras. 
  • Social: ações em benefício da diversidade e da erradicação da discriminação, do assédio e da diferença salarial entre gêneros, além da busca de ganhos para as comunidades locais. 
  • Governança: organização de conselhos, processos de tomada de decisão mais transparentes; criação de políticas internas e canais de denúncia, entre outras ações.

Os SDG Compass, os próprios ODS e os indicadores Etho, por exemplo, podem servir para avaliar como as ações ESG são realizadas na prática pelas empresas.  

TI Verde e os ODS da Agenda 2030

Diante da necessidade de mobilização corporativa ante a urgência de ações guiadas pela sustentabilidade, a TI Verde se estabelece como uma forma de relacionar a tecnologia com o alcance dos ODS e da Agenda ESG.

Em linhas gerais, ela se caracteriza por ser uma estratégia sustentável para o uso de tecnologia da informação, com foco na proteção do meio ambiente, racionalização do uso de recursos e melhoria da eficiência operacional.

O conteúdo foi tema de um exclusivo webinar da ESR, “Sustentabilidade e TICs: caminhos para a implantação de uma agenda ESG nas organizações públicas e privadas”, no qual o pesquisador Alexandre Cesar Motta de Castro expôs as possibilidades dessa associação, sendo algumas delas destacadas abaixo: 

  • ODS 1 – Erradicar a pobreza: criação de empregos verdes; melhoria da eficiência energética; processos produtivos mais circulares e redução do custo de vida. 
  • ODS 2 – Fome zero e agricultura sustentável: melhoria da eficiência da produção agrícola (agricultura de precisão); redução do desperdício de alimentos e acesso mais fácil a serviços de saúde. 
  • ODS 11 – Cidades e comunidades sustentáveis: surgimento de smart cities, com o uso mais eficiente da água, redução da poluição, gestão de resíduos e ocupação planejada do solo urbano. 

Dez práticas já utilizadas pela chamada TI Verde

Uma vez que estão inseridas em um segmento dinâmico, altamente modificável, as práticas de TI Verde também se transformam constantemente, assim como aparecem outras inéditas. Ainda assim, é possível destacar algumas atividades que são importantes para uma atuação mais sustentável.

1) Educação e conscientização

Uso da TI para disseminar informação e conscientizar colaboradores e partes interessadas da importância da sustentabilidade e como adotar práticas mais verdes. 

2) Teletrabalho e mobilidade sustentável

Incentivo ao teletrabalho e à colaboração remota, o que reduz a quantidade de espaço de escritórios, que precisam ser aquecidos e resfriados, e o número de computadores no local. 

Há também a mitigação da necessidade de deslocamento físico para o trabalho; facilidade de acesso a oportunidades de emprego nowhere office (escritório em qualquer lugar); descongestionamento do trânsito urbano; redução dos custos para empregadores e funcionários; diminuição da emissão de GEE e da pegada de carbono associada ao transporte. 

3) Licitações sustentáveis 

Compras de hardware/suprimentos/serviços com certificação ambiental, maior eficiência energética e contratação de fornecedores verdes.  

4) Digitalização de processos de gestão

Incentivo ao uso de ferramentas eletrônicas de comunicação e consolidação de impressoras; terceirização de serviços; implantação de nichos de impressão adequados a cada ambiente; redução do uso de papel; uso de assinaturas digitais e digitalização de documentos. 

4) Digitalização de processos de gestão

Consolidação de servidores físicos em máquinas virtuais para reduzir o número de equipamentos necessários, com economia de espaço, energia e refrigeração.

6) Datacenters eficientes

Contratação de datacenters verdes para aumentar a eficiência das operações e das soluções computacionais, além de melhorar a produção energética, por meio de sistemas de refrigeração mais eficientes, otimização de racks e servidores e uso de fontes renováveis de energia. 

7) Computação em nuvem e adoção do SaaS

Redução da necessidade de recursos físicos em cada local de trabalho; compartilhamento e acesso remoto a aplicativos e dados, o que possibilita o aumento da produtividade e da eficiência, com otimização da mobilidade, da acessibilidade multiplataforma e dos investimentos em TI, com redução da pegada de carbono e dos requisitos de energia. 

8) Sensores inteligentes para monitoramento

Utilização de sensores inteligentes para monitorar o consumo de energia, a temperatura, a umidade e outros parâmetros, possibilitando uma gestão mais eficiente e a identificação de áreas de melhoria. 

9) Monitoramento e tomadas de decisão

Coleta e análise de grande quantidade de dados relevantes, com foco na sustentabilidade, para um monitoramento mais eficaz do progresso e uma tomada de decisão mais informada para a implementação de políticas e programas direcionados para objetivos específicos. 

10) Gestão de resíduos

Descarte apropriado; doação; coleta e reciclagem de pilhas e baterias, cartuchos de toner, eletroeletrônicos, equipamentos periféricos de TI etc.

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Além da TI Verde, a Agenda Ambiental se tornou uma diretriz essencial para todos os departamentos organizacionais, tanto em empresas privadas quanto na administração pública. 

Nesse contexto, o comprometimento com os princípios do Pacto Global se converte em uma responsabilidade compartilhada, destacando a importância de adotar uma série de condutas, como:

  1. Implementar boas práticas de governança;
  2. Combater a corrupção;
  3. Respeitar as leis, os direitos dos consumidores, dos seres humanos e dos animais;
  4. Promover a qualidade de vida no trabalho e o bem-estar das comunidades;
  5. Adotar sistemas de gestão ambiental;
  6. Investir em economia verde, com foco na ecoeficiência no consumo de recursos e energia, venda de produtos éticos, reciclagem e logística reversa, entre outros.

Todas essas referências são recursos que as organizações podem buscar para implementar novos modelos de gestão voltados para a sustentabilidade, para se criar um ambiente corporativo mais consciente e comprometido com essa agenda.

Assumir um papel social e ambiental mais responsável é uma transformação que redefine o propósito da organização, alinhando-a com as demandas atuais e com a compreensão do que é necessário para um futuro sustentável.

Assista, na íntegra e gratuitamente, ao webinar “Sustentabilidade e TICs: caminhos para a implantação de uma agenda ESG nas organizações públicas e privadas”, com o especialista 

Alexandre Cesar Motta de Castro.

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